Hospital das Mercês

Esse último ano foi terrível. Achei que nunca ia passar e eu nunca iria recuperar.

Dia 18 de setembro do ano passado sofri um acidente e esse 1 ano se tornou o pior da minha vida. Infelizmente, não dei sorte. Não dei sorte com meu fusquinha. Não dei sorte com a casa que aluguei e não era nada acessível. Não dei sorte com meu seguro de vida. Não dei sorte com o hospital nem o ortopedista que fui cair…

Após descobrir que o ortopedista Lauro já tem 7 processos contra ele, já era hora de eu me juntar a essas 7 pessoas. Já era hora de eu falar sobre o que passei lá dentro:

Ao sofrer o acidente, fui levada para o Hospital das Mercês. Já no início que eu estava inconsciente, minha mãe relata que deixaram a gente no corredor por 5 horas esperando um quarto, pois estavam chegando se eu tinha plano de saúde e queriam me internar por ele.
Tinha quebrado o fêmur e um pedaço da bacia (que o hospital nem observou) e foi os piores meses da minha vida.
Estava em época de procissão na igreja do Hospital e o sino tocava 5 vezes por dia por 15 minutos, havia gente cantando nos corredores e era muito difícil descansar. Os quartos pequenos era p’ra 2 pacientes e apenas um acompanhante conseguia dormir na cadeira.
Fiquei uma semana com um dor terrível aguardando ser operada e algumas enfermeiras noturnas me viravam sem nenhum zelo me segurando pelo lugar fraturado. A dor era tanta que quando eu precisava trocar a fralda, eu acordava minha vó pra fazermos antes da enfermeira chegar. Um dia pedi p’ra elas terem cuidado e uma delas falou que não tinha tempo.
Fui operada por um ortopedista-piadista que alega não ter visto no raio-x que eu tinha fraturado em várias partes o fêmur e tinha encomendado uma haste pequena. Ele pegou uma haste grande que havia no estoque e colocou, o que deixou minha perna rodada p’ro lado e uma dor imensa no quadril, também me cortou do joelho até a cintura.
Depois de uma semana com muitas dores e esperando explicação, o ortopedista finalmente aparece p’ra olhar e avisa que eu precisaria operar novamente. Na segunda cirurgia, colocou uma placa infectada e minha perna não parava de sair secreção. Fiquei mais 20 dias tomando vários antibióticos que pareciam estar resolvendo até uma enfermeira uma noite esquecer de ir me medicar… Coincidência ou não, minha perna piorou depois disso. Tornou osteomelielite crônica.
Além do problema da perna, um dia precisaram pegar minha veia p’ra segunda cirurgia e juntou 5 enfermeiros ao meu redor e me furaram mais de 30 vezes em todo o corpo procurando veia. No outro dia, o ortopedista ainda veio me furar mais garantindo que ele era o melhor – não conseguiu. Precisei de uma dissecção na veia do braço que foi feita por senhor atencioso.
Passando os dias comecei a ter uma febre que não passava. Ainda com o cateter no braço, pedíamos atenção das enfermeiras quando molhava o curativo no banho e como só a enfermeira-chefe que tinha graduação e só ela podia trocar o curativo, esperávamos por horas ela vir trocar o curativo do cateter.
O ortopedista que nunca aparecia, ao ver a gravidade da situação, culpou a falta de recurso do hospital e me transferiu pra Fhemig. Ao chegar lá, olharam meu cateter no braço e antes mesmo de ser internada já solicitaram a retirada por indicar sinais de infecção. Ao tirar o cateter, ele estava todos os 20cm sem sangue nenhum e com pus (foto). Depois de 10 dias, parou minha febre.
O Hospital das Mercês não tem recurso p’ra nada. Fiquei 3 semanas com o mesmo equipo p’ra tomar antibiótico e depois descobri que ele tem validade de apenas 24 horas! As tampinhas do equipo também. As vezes caía no chão, e a enfermeira pegava e colocava no meu braço. Elas eram orientadas a pegar uma quantidade de luvas e colocar no jaleco, o que aumenta a facilidade de infecção. Lá tem apenas 2 banheiros que é usado por todo mundo, inclusive visitantes. A cama de madeira velha e o colchão superfino tinha uma maçaneta dura p’ra levantar a cabeceira da cama. (Lá parece que tem a ala pobre e a ala rica, e tudo que o hospital ganha tá p’ra servir quem tem dinheiro…)
O Hospital das Mercês “perderam” meus raio-x e entregaram 200 páginas de relatório confuso escrito a mão. Como a Fhemig não tinha recurso após meu caso se tornar grave, precisei mudar de cidade e conseguir uma cirurgia de emergência no HC de São Paulo. Devido ao descuido do Hospital das Mercês, quase perdi minha perna.
Atualmente, já fiz 5 cirurgias e precisaram tirar 15 cm do meu fêmur que estava podre. Tomei antibiótico por 6 meses seguidos contra a superbactéria da osteomelielite e ainda nem tenho previsão de voltar a andar no próximo ano.