professor
Ruídos
Pum. Ruídos. Terça-feira, dia 19 de fevereiro de 2019 na cidade de São João Del Rei. Um professor tenta prender a atenção da sua turma de percepção musical. Em pé de frente à lousa, risca com seu giz desenhos do que ele acredita ser uma orelha. Tímpano. Cóclea. Frequência. Ruído.
Toc toc. Uma senhora com sorriso carismático atrapalha a aula para entregar o lanche do filho. Som musical, ritmo, movimento, ruído – continua perto da porta o professor que não consegue esconder seu encantamento pelo músico John Cage. Altura, duração, intensidade, timbre – responde um aluno sentado no fundo que se sente orgulhoso de responder corretamente o que aprendeu nos seus anos de conservatório.
Agudo e grave. Lentamente, o professor toca no piano vários acordes e muda as opções apertando os botões pra tentar explicar o que é timbre. Não existe palavra já criada pra explicar o que é timbre! – diz frustrado no mesmo tom de voz de um quadrinista que se sente obrigado a responder quando lhe perguntam o que é arte.
Dó, ré, mi. Em Mi resguarda uma Dó da criança perto do piano que, por causa da sua terrível escolha de se sentar no canto da parede, está sendo punida orquestradamente com ruídos altos do velho piano.
Pi. Pi. Pi. Me assusto com meu celular que desperta imitando um relógio e, intrigado, o professor se pergunta o que tanto escrevo no meu caderno. Pausa, pauta. A aula continua e o professor desenha nas pautas do quadro as notas Ré, Mi, Fá e o Sol bate em seu rosto.
Crackle. Fecham as cortinas da janela e continua o professor, craque em ensinar partitura. Lá. Lá no corredor, toca o sinal avisando o fim da aula. Os alunos aceleram o ritmo saindo da sala antes mesmo que o professor termine. E depois das pausas frequentes, o professor guarda o final para Si.
Silêncio.