Minha história de outra vida
Em setembro de 2016, eu morava sozinha em São João Del Rei e costumava às vezes visitar minha mãe que morava na cidade vizinha, São Vicente de Minas. Um domingo à tarde, na viagem de volta um caminhão empurrou meu Fusca para fora da estrada e me jogou num brejo.
Não lembro como foi o acidente. A primeira coisa que lembro era que eu tentei ficar em pé depois de mudar pro banco de passageiro pra sair do fusca, já que o lado do motorista estava afundando.
Senti uma dor imensa então sentei no chão. Meus olhos e nariz sangravam, então minha vista estava toda embaçada. Tentei me esticar e procurar o celular no chão do Fusca e não consegui, então me arrastei no brejo pra um lugar seco e com menos mato e fiquei deitada de frente pra estrada gritando socorro, mas a estrada ficava muito alta e ninguém me via lá embaixo. Fiquei inconsciente ou peguei no sono. Quando estava anoitecendo, umas 3 horas depois do acidente, acordei com pessoas me acordando e luzes de carros parados na estrada. Um ônibus de viagem conseguiu me enxergar lá embaixo e isso que me salvou. A água do brejo tinha subido e eu estava só com a cabeça de fora da água e com hipotermia. Algum passageiro do ônibus me cobriu com um cobertor e avisaram que estava vindo o Samu, mas toda hora eu acordava e dormia de novo e ficavam me perguntando qual o telefone do meu parente mais próximo.
Fiquei uns dias sendo medicada com morfina no hospital e acordei com a pior dor da minha vida. Por sorte, eu só tinha quebrado o fêmur direito e eu acreditava que só precisaria aguentar aquilo por alguns dias, ser operada e tudo ia ficar bem. Infelizmente, o hospital de São João Del Rei era péssimo, com condições precárias e o ortopedista que me operou incompetente a ponto de não olhar direito o raio X e encomendar uma haste errada. Após a cirurgia eu sentia uma dor terrível no quadril e minha perna ficou rodada pro lado errado. Uma semana depois, ele apareceu no hospital e me avisou que eu teria que ser operada novamente.
Na segunda cirurgia, colocaram uma placa infectada e saía muita secreção da minha perna. Fiquei mais 20 dias tomando antibiótico e lutando contra uma febre que não passava, então fui transferida para fazer a terceira cirurgia no hospital de Barbacena. Antes da segunda cirurgia, após 30 fracassadas tentativas de encontrar minha veia para receber transfusão de sangue, foi feita uma dissecção no meu braço. Ao chegar no outro hospital observaram sinal de infecção e quando tiraram o cateter ele estava inteiro com pus sem nenhuma gota de sangue e foi só tirar que minha febre passou, mas minha perna continuava problemática.
Na terceira cirurgia fui diagnosticada com osteomielite crônica e colocaram um fixador externo, mas deixaram um osso aproximadamente de 20 centímetros desvitalizado que a ponta ficava rasgando meu músculo por dentro. Foram os piores meses da minha vida e a dor era imensa. Por necessidade, mudei para uma cidade em São Paulo e consegui atendimento no Hospital das Clínicas.
Em fevereiro, deste ano, fui operada novamente onde corrigiram o problema mais grave e em maio tive a quinta cirurgia onde pegaram medula óssea e osso do fêmur esquerdo e fizeram enxerto, precisando colocar haste nas duas pernas. Depois de 8 meses sentindo uma dor que nunca passava, estou me recuperando e tomando antibiótico para combater a infecção pelos próximos meses. Como o fêmur direito ficou 10 centímetros menor que a outra perna, ainda precisarei colocar gaiola para crescimento do osso, mas finalmente estou no processo da cura para um dia voltar a andar novamente.
Sobre meu fusquinha ainda tem o chassi com motor, câmbio, suspensão dianteira e 4 rodas, ignição eletrônica e alternador, mas não sobrou nada da carcaça.